Gravações, feitas há dois meses, fariam parte de acordo de delação premiada
Denúncia foi reverberada no Jornal Nacional, principal telejornal do país
Os irmãos Joesley e Wesley Batista, magnatas da companhia JBS, tentam fechar um acordo de delação premiada em que apresentam uma prova, em áudio, de que o presidente da República, Michel Temer tentou obstruir a Operação Lava Jato, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo nesta quarta-feira. De acordo com o veículo, Temer foi gravado dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha, preso desde outubro do ano passado.
O diálogo entre o presidente e Joesley Batista teria ocorrido por volta das 22h30 do último dia 7 de março deste ano, no Palácio do Jaburu, a residência da vice-Presidência. O empresário portava um gravador escondido, segundo o O Globo. Joesley contou que estava dando uma mesada a Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, para que ambos não falassem nada que prejudicasse o Governo. Temer teria dito: “Tem que manter isso, viu?”. Segundo o empresário, não foi o presidente que determinou o pagamento da mesada, mas ele tinha conhecimento sobre ela.
Questionada pelo EL PAÍS, a assessoria do Procuradoria-Geral da República nem confirma, mas tampouco desmente as informações de O Globo, informa Afonso Benites. Mesmo sem a confirmação, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) anunciou que protocolou um pedido de impeachment de Temer com base nas informações divulgadas por O Globo. "Isso fere direta e claramente a lei dos crimes de responsabilidade", disse o deputado, referindo-se aos pagamentos para que Cunha permanecesse calado. Em nota, o presidente Michel Temer negou a acusação do empresário da JBS.
Senadores
A delação também comprometeria o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à presidência derrotado por Dilma em 2014. O tucano pediu, segundo O Globo, dois milhões de reais a Joesley. O dinheiro teria sido entregue a um primo de Aécio — e essa cena teria sido inclusive gravada pela Polícia Federal. O dinheiro, segundo as notícias sobre a delação, foi depositado na conta de uma empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG) O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega é outro que aparece na delação, como contato do empresário no PT.
Em nota divulgada minutos depois da publicação da reportagem de O Globo, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, disse que "são estarrecedores, repugnantes e gravíssimos os fatos noticiados por O Globo a respeito de suposta obstrução da Justiça praticada pelo presidente da República e de recebimento de dinheiro por parte dos senadores Aécio Neves e Zezé Perrella”. Lamachia cobrou a publicação das gravações citadas, “na íntegra, o mais rapidamente possível”.
A denúncia contra Temer abala o mundo político pouco mais de um ano após a sessão em que o Senado aprovou o impeachment da então presidenta afastada Dilma Rousseff. A notícia, reverberada pelo principal telejornal do país, o Jornal Nacional, atraiu as atenções imediatas no país e causaram até mesmo instabilidade no site de O Globo por causa do excesso de acessos.